Um bioma é mais importante que outro?

 

Esse é uma pergunta bem interessante de se fazer. Hoje em dia temos muitas formas de comparar os biomas em termos quantitativos.

A mais usada é a do índice de biodiversidade. Quantas mais espécies por unidade de área do terreno mais rico em biodiversidade é o bioma. Essa visão embasa a famosa teoria dos hot spots. Locais no mundo com maior biodiversidade.

Hoje, em função da ameaça das mudanças climáticas, estão começando a comparar os biomas conforme sua capacidade de fixar carbono. Recentemente o Map biomas publicou um material que compara os principais biomas brasileiros segundo essa lógica. A Amazônia retém o maior estoque de carbono no total. A Mata Atlântica e o Pampa retêm mais por hectare segundo esse trabalho. Os números variam em torno de 45 toneladas de carbono por hectare.

Eu não gosto muito dessa linha de raciocínio de comparar quantitativamente os biomas. Ela leva os leigos a achar que uns biomas são mais importantes que os outros porque tem algo quantitativamente maior do que outro (mais biodiversidade ou mais fixação de carbono, como nos exemplo).  Essa lógica está errada e prejudica a preservação de determinados biomas por serem “menos ricos” que outros. O Pampa, por exemplo, perde sempre nessas disputas com a Amazônia ou a Mata Atlântica.

Essa lógica está errada por que as formas de vida que ocorrem nesses biomas “mais pobres” muitas vezes só ocorrem ali. Como muitas cactáceas dos morros da Pampa, por exemplo. O risco dessa visão está bem claro no uso político dela na escala global. O Brasil sofre muita pressão para preservar a Amazônia. Mas pouca pressão para preservar o Cerrado ou o Pampa onde hoje se plantam os  principais produtos básicos globais não industrializados agrícolas que o país exporta. Matérias primas dos quais países industriais dependem.

Isso ocorre também porque esses biomas “mais pobres” mesmo entre profissionais da área são vistos como menos importantes e, de certo modo, sacrificáveis ante a missão de preservar os “mais ricos”. Uma lógica materialista que ilude e não ajuda quem defende a preservação da vida na Terra. Sabemos que tudo está interligado e nesse sentido cada ser vivo ou bioma

O fato é que precisamos trabalhar para preservar porções significativas de todos os biomas do planeta. Não só pelos os serviços ambientais que eles prestam (no nosso exemplo o equilíbrio do clima para os humanos), mas pelo fato de preservarem formas de vida que tem tanto direito como nós a viver nos territórios do planeta onde evoluíram e estão adaptados.

 

Arno Kayser

Agrônomo, Ecologista e Escritor

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